domingo, 4 de maio de 2008

Obama, uma lição de marketing


A campanha do pré-candidato democrata às eleições presidenciais americanas Barak Obama tem chamado a atenção de analistas e estudiosos de marketing político, pela consistência, pela estratégia e pela unidade.

Um primeiro ponto a considerar é a força da estratégia de branding. Um grande plano de comunicação, consistente e focado, trabalhou dentro da estratégia de criar um "produto de ponta", um candidato sólido para o cargo mais importante do mundo. Já há quem compare o produto Obama a outras marcas sólidas, como Apple e Target, pela qualidade da comunicação. Não apenas pela programação visual, muito bem feita, mas também pela consistência do discurso e pela qualidade dos textos.

Um segundo aspecto a ser admirado é a qualidade da operação de marketing. Os escritórios funcionam como uma grande empresa, tanto na sustentação da imagem da marca, oferecendo informações e "vendendo" o nome Obama, como na captação de recursos. O estrategista político americano Joe Erwin escreve um artigo para a revista Advertising Age (citado pela Época Negócios), contando um episódio que aconteceu na época das primárias da Carolina do Sul e que o impressionou: "Em 30 anos acompanhando campanhas no estado, nunca tinha visto algo assim". Uma amiga de Erwin (não filiada ao partido democrata), fez uma doação de 50 dólares por meio do site do candidato. Menos de dois minutos depois, ela recebeu um e-mail de agradecimento, dando-lhe a notícia que um contribuinte de Ohio tinha acabado de equiparar a doação, com um cheque no mesmo valor. Dois minutos mais tarde, outro e-mail da campanha dizia que outra doação de US$ 50 tinha sido realizada por um outro contribuinte. Desta vez, a assessoria perguntava se ela não gostaria de equiparar a nova doação, e se o seu endereço eletrônico poderia ser compartilhado com o contribuinte, para agradecimentos. "Isso não é publicidade tradicional. Essa dinâmica é própria das redes de relacionamento", diz Erwin.

E há ainda um outro aspecto do marketing Obama que impressiona: a unidade. Percebe-se um grande esforço de planejamento e gestão da campanha, que vão desde a postura e o discurso do candidato à programação visual cuidadosa e detalhista. Nos sites da campanha, nos outdoors e painéis, nos cartazes, cartas e e-mails de Obama, em tudo é utilizada uma única fonte tipográfica, chamada gotham, que criada originalmente para a revista GQ. É praticamente inédito em uma campanha política. Sempre há um correligionário ou um fornecedor desajeitado que acaba usando uma outra fonte de letras, mudando um pouco a programação visual. No "case" Obama isto não acontece.

O trabalho de branding da campanha Obama, que criou uma verdadeira (e até certo ponto surpreendente) "obamania" pelos EUA afora, mostra a capacidade de retorno de um trabalho de "brand strategy" competente, dedicado e focado.

Um comentário:

Elsa Luiza disse...

Bem, concordo com as observações todas sobre Obamania... e não pude deixar de lembrar de cenas que vi ainda semana assada no Dokumentationszentrum, em Nurenberg, na Alemanha. Tal museu trata apenas da vida e obra de Hitler, não focada nos judeus e os efeitos daquelatenebrosa época.
Trata mais da vida e das estratégias do excelente marketing do ditador alemão. Fotógrafo pessoal com ordens muito nítidas quanto ao ângulo e e perspectiva acompanhava o nazista em todas as ociasiões e deixou um acervo impressionante de imagens fortes e positivas - no sentido estrito da palavra, sem ideologias, aqui.
Uma equipe de 170 cinegrafistas e alguns produtores captavam e selecionavam cenas rigorosamente, de modo a que o resultadso fosse sempre um chefe de estado poderoso, alto, viril, forte e acima de tudo e todos - ainda que ele fosse baixo, desajeitado e meio gordo.
Bem, a conclusão, novamente sem nenhuma ideologia, é que o marketing é essencial para envio de mensagens, mas é sobretudo essencial quando se quer construir uma imagem.
Parabéns pelo Blog!!